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Um pouco sobre o Autismo

Hoje conhecido sob a nomenclatura de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, publicado em 2014, este distúrbio do neurodesenvolvimento inicia-se na infância e acomete predominantemente meninos.
Seu diagnóstico baseia-se em critérios clínicos, ou seja, até o momento não há exames que o confirmem, portanto, os dados de história relativos à linguagem, interação social e aspectos comportamentais nortearão sua identificação.
As características clínicas essenciais para o diagnóstico residem basicamente em duas grandes chaves de manifestações: 1. Déficits persistentes na comunicação e interação social presentes em múltiplos contextos e 2. Padrões restritos e repetitivos de comportamentos, interesses ou atividades.
Quando se refere ao primeiro item, pode-se observar desde ausência total de linguagem verbal, atraso ou ainda um padrão característico de fala, observa-se também déficits na comunicação não verbal, como uso de gestos, linguagem corporal, mímica facial e contato visual. Associa-se dificuldade para estabelecer uma conversa normal e compartilhamento reduzido de interesses, emoções ou afeto, dificuldade para iniciar ou responder a interações sociais e ainda déficits para desenvolver, manter e compreender relacionamentos.
Com relação ao segundo item, observam-se movimentos, uso de objetos ou fala estereotipados ou repetitivos, insistência nas mesmas coisas, adesão a rotinas ou inflexibilidade com a mudança destas, padrões sistematizados de comportamentos, interesses fixos e altamente restritos, apego ou preocupação incomuns. Associam-se alterações sensoriais caracterizadas por hipo ou hiperreatividade a sons, toques, cheiros, como por exemplo, indiferença a dor ou temperatura, fascinação excessiva por luzes, reações inesperadas ao som.
Estas características apresentam-se nos primeiros anos de vida, mas podem não estar completamente evidentes até que as demandas sociais excedam sua capacidade limitada ou sejam mascaradas por estratégias aprendidas ao longo da vida. E, como todo transtorno mental, faz-se necessário um prejuízo clinicamente significativo no funcionamento deste indivíduo. Não raro, o diagnóstico é tardio nos casos em que não há prejuízo expressivo na linguagem e a inteligência preservada (muitas vezes, pais de crianças diagnosticadas, identificam-se dentro deste espectro).
Estima-se uma prevalência de 1% na população e, segundo a ONU, em 2010, cerca de 70 milhões de pessoas em todo o mundo estariam afetadas por este transtorno, na sua forma de interagir e se comunicar. Desde 2008 reserva-se o dia 2 de abril como Dia Mundial para Conscientização do Autismo e o mundo então se ilumina de azul.
Sabe-se que quanto mais precoce o diagnóstico, melhor a evolução, ou maior a chance de quebrar os padrões desviados de comportamento e interação em busca de um funcionamento mais adaptado do indivíduo, com menor sofrimento. O diagnóstico reside na avaliação médica neurológica ou psiquiátrica juntamente com uma equipe multidisciplinar, minimamente composta por psicóloga e fonoaudióloga, que irão avaliar o grau de funcionalidade do indivíduo, seu comportamento adaptativo, linguagem e cognição, além, é claro, da investigação de outras síndromes, doenças neurológicas ou déficits sensoriais associados, como deficiência auditiva, por exemplo.
Classifica-se o TEA em três níveis de gravidade, de acordo com seu grau de comunicação social e presença de comportamentos restritos e repetitivos, sendo que no Nível I de gravidade, o paciente exige apoio nas suas atividades, no Nível II exige apoio substancial e no Nível III exige apoio muito substancial, ou seja, é dependente em todas as suas atividades. Inteligência e linguagem são fatores prognósticos, ou seja, pacientes com inteligência e linguagem preservadas terão maior probabilidade de uma vida independente, ainda que com apoio.
Uma vez identificado o TEA e caracterizado o grau de gravidade, indica-se a abordagem terapêutica que dependerá substancialmente do treino de habilidades deficitárias encontradas, desde habilidades sociais que indiscutivelmente estarão comprometidas, treino de habilidades de linguagem, treino de funções executivas e autonomia, além do suporte familiar, ou seja, munir a família de informações suficientemente claras e práticas para garantir o melhor manejo de cada caso. A abordagem psicológica de base comportamental é a mais aceita atualmente.
Necessário e fundamental também será o suporte pedagógico, tendo em vista os desdobramentos que o quadro poderá desencadear – desde dificuldades no aprendizado, dificuldades com regras, com ambientes sociais, até a inabilidade e/ou desconhecimento dos educadores a respeito da variabilidade de manifestações clínicas e peculiaridades de cada criança. Não há um autista igual a outro, assim como não há um cérebro igual a outro e, portanto, não há uma maneira única de agir com estes indivíduos. É preciso saber do básico e das nuances para se chegar à intimidade de cada ser.
O uso de medicamento restringe-se aos casos cujos sintomas-alvo interferem de forma negativa no seu comportamento ou prejudicam a terapia e envolvem sintomas como agitação, agressividade (auto e heteroagressão), hiperatividade, insônia, crises convulsivas e / ou comorbidades como ansiedade, depressão, transtorno obsessivo-compulsivo, entre outros.
Infelizmente, até o momento, não há cura para o autismo, mas o treino de habilidades, a repetição de tarefas, o entendimento do transtorno e a verdadeira inclusão destes indivíduos na sociedade são as possibilidades que se tem hoje, com as quais é possível minimizar o impacto deste quadro na vida da criança e da família.

(Texto elaborado pela Dra. Cristina Maria Pozzi – Médica Neuropediatra, Doutora em Psicologia Clínica pela Universidade de São Paulo / USP).

Postado em 8 de fevereiro de 2016.